Pretérito: perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito

(À especial atenção do amigo Kikas, de Luanda)

Quanto à hifenização, permita-me que lhe recomende: rubrica 305 de Tento na Língua! – 3. Se não tiver ainda, espere uns dias, que vou mandar-lhe os meus livros em breve. Recomendo-lhe também o Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, Notícias Editorial, pp. 29-34 (47ª edição ). Mais-que-perfeito, com hífen ou sem hífen, é uma questão meramente ortográfica que vem da reforma de 1945.

Mais importante considero eu o aspecto semântico-etimológico da terminologia gramatical.

Pretérito perfeito. Como é sabido, pretérito (do latino praeteritum) significa ‘passado’. Vem do adjectivo prateritus-a-um, particípio do verbo praeterire (= passar; ultrapassar). Chamar-se pretérito ao tempo verbal do passado, já nos vem dos gramáticos latinos… Pretérito, pois. Mas, na terninologia gramatical portuguesa, há o pretérito perfeito,  o pretérito imperfeito e o pretérito mais-que-perfeito, palavras que nos vêm, pois,  do latim: perfectum, neutro de perfectus-a-um, que quer dizer “acabado”, “completado”; imperfectum, que quer dizer “não acabado”. Isto para dizer que o pretérito perfeito exprime uma acção acabada no passado: ontem li três livros.

Pretérito imperfeito. Exprime acção no passado, continuada (não acabada, imperfeita – lembra o aspecto verbal dos linguistas modernos…): quando passei por lá ontem, ele lia um livro.

Pretérito mais-que-perfeito. Exprime sempre uma acção perfeita (=acabada) num passado anterior a outro passado, e é por isso que é ‘mais-que-perfeito’: quando o vi ontem, já ele lera (tinha lido) um livro.

Mas estes e outros tempos verbais podem usar-se em dois modos – indicativo e conjuntivo – e podem ter forma simples e composta. Vejamos:

Pretérito perfeito do indicativo, simples:  ontem eu li  um bom livro; composto:  tenho lido bons livros.

Pretérito perfeito do conjuntivo (só composto): oxalá que ele tenha lido bons livros;

Pretérito imperfeito do indicativo (só simples): ele lia um livro.

Pretérito imperfeito do conjuntivo (só simples): oxalá que ele lesse bons livros.

Pretérito mais-que-perfeito.do indicativo, simples: eu lera um bom livro; composto: eu tinha lido um  livro..

Pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo (só composto): (se) eu tivesse lido um bom livro.

Não esquecer, pois, os tempos compostos que, para todos os verbos, seja qual for o tempo e o modo, se formam com o auxiliar ter*. Repetindo alguns exemplos de acima: eu tenho lido (p.p. composto do indicativo); eu tenha lido (p.p. composto, do conjuntivo).

Estamos falando dos tempos do pretérito. Mas há outros tempos que também têm forma composta (com o auxiliar ter, claro*). Só um exemplo: eu terei lido um livro (futuro perfeito do indicativo).

Tudo isto é claro, mas não é muito simples… Há por aí, no entanto, uns iluminados (os da tal TLEBS…) que pretendem, decerto, tornar mais complicada esta terminologia que nos veio, já, e tão precisa, do Latim. Não tal e qual, do latim clássico, mas mediante o latim vulgar, do qual, como é sabido, provêm as línguas novilatinas. O plus-que-parfait francês, bem como o pluscuamperfecto espanhol, estão mais próximos do latino plusquam perfectum do que o nosso mais-que-perfeito, que terá vindo, mais tardiamente, de um magis quam perfectum*

* Obs.: o verbo haver, como auxiliar dos tempos compostos, usou-se muito desde o séc. XVI e por aí adiante, mas está caindo em desuso.

(Nota de 27.08.12: – Esta é a postagem do blogue mais visitada por ‘deparantes de acaso ou adrede visitantes’, com cerca de 40.000 visitas até meados de Agosto de 2012)

58 pensamentos sobre “Pretérito: perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito

  1. Bom adorei o site muito interesante tirei muitas duvidas MAS… vocês poderiam colocar alguns explo de frase para cada tempo e tambem qual é a finalidade de cada um que eu ainda não consigui entende mais obrigado vai me ajuda muito na escola ;D

  2. Olá,seu blog é um amor só que é bem emboladinho fiquei tentendo mi achar.
    Mais é um ótimo blog e vejo nos comentario que as pessoa adoraram,bem,eu também,em fim,é que eu tenho 11 anos e precisava de uma resposta,mais isso me ajudo bastande

    beijus pamella
    (gosto de botar “beijus” em vez de “beijos” não pense que eu sou burra)

  3. isso tah confuso eu pelo menos não consegui tirar minhas duvidas tah desorganizado teria que ser de um jeito melhor!

    Atenciosamente Gabryella

  4. obrigada pela informação, hoje tem um exame do seu idioma e você ajudo-me aclarar meus duvidas com sua boa explicação

  5. Apreciei navegar neste português. Recordei algumas coisas. Obrigada professor.
    Continuo com a dúvida que aqui me trouxe e peço ajuda, para o tempo da última frase:

    ‘- Enquanto estiveste fora, houve um grande tornado. Este fez com que cidade ficasse destruída e a árvore, onde nascemos, foi levada pelo vento.’

    A minha pergunta é: ‘Onde nascemos’ ou ‘Onde nasceramos’

    Agradeço antecipadamente.

  6. Ó professor, desculpe, venho incomodá-lo mais um pouco. É tão bom ter a quem expor estas dúvidas!
    Na pergunta anterior mencionei ‘a última frase’ quando devia ter sido a ‘antepenúltima´’

    ”Olha Maria´´ e ”Olha, Maria” Têm sentidos diferentes todavia ambas correctas. Estou certa?

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