A língua do Acordo: que língua é essa?

À quarta-feira compro e leio o DN, para não perder as boas crónicas de Baptista-Bastos e Vasco Graça Moura, “por decisão pessoal” escritas e ortografadas em bom português, contrariando, naturalmente, o tal Acordo Ortográfico (AO) “adotado” pelo jornal. Hoje, Quarta-feira, 25/07/12, não falhei à regra que me impus. Página 2, único título garrafal:

Exército acaba com operações para intercetar [sic] e identificar civis.

Logo a seguir, no lead:

PCP questiona Governo sobre ações [sic] de interceção [sic] e identificação de civis por militares do Exército nos acessos à serra de Santa Luzia e qual a sua base legal.”

Depois, lá para diante, na página 48, na CRÓNICA DE TV, “O adeus a ‘Ídolos’”, 2º parágrafo:

Ou melhor, talvez deixe aos seus indefetíveis [sic], mas a esmagadora maioria dos espectadores [sic, em que é que ficamos?] portugueses não vai dar pela sua ausência

E porquê estas citações? Vejam bem: intercetar, ações, intercessão. Porquê? Para realçar algumas situações patuscas a que a aplicação do AO obriga. Reparem sobretudo em “intercetar”, “interceção”, logo ali na introdução da notícia. Então, não acham vocês que fazem lá falta as tais mudas (ou… quase mudas)? Tentem perceber a diferença entre interceptar e intercetar; intercepção e interceção. (Não lembra logo a interceção à Virgem?) E para quê criar palavras homógrafas e homófonas (no caso; em outros casos são mesmo homónimas), que o serão quando a vogal que precede a muda (ou quase muda) exterminada enfraquecer ou quase emudecer, porque lhe roubaram a tal muda que estava ali para lembrar ao falante que a vogal era (é, há-de deixar de ser) aberta!…

Que língua é esta, a língua do Acordo? Nem é português, nem é brasileiro. É uma mescla linguística feita à força, contra naturam!…

2 pensamentos sobre “A língua do Acordo: que língua é essa?

    1. O acordo é um crime cultural. E crime não é uma figura de estilo. O malaca até esclarece numa entrevista dada ao expresso, que o acordo não é linguística mas política…
      O acordo foi assinado pelo cavaco, que não sabia quantos cantos há nos Lusíadas…
      Pagamos o preço da iliteracia.

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