A demissão “irrevogável” de Portas: digressão linguística e política

1. Linguística. O adjectivo irrevogável, palavra triplamente derivada: sufixação – sufixo ‘vel’ (possibilidade); dupla prefixação: negativo ‘i’ por ‘in’, que anula a possibilidade do sufixo ‘vel’; ‘re’ (retorno). Coisa irrevogável é coisa que não tem possibilidade de se revogar, de voltar atrás (revogar: deixar de ter efeito [do lat. revocare, com o mesmo significado]).

Demissão. Substantivo (nome), cognato de uma enorme família de palavras que têm como referência o verbo latino mittere que deu em português meter (com uma enorme extensão semântica, isto é, de significação: quem mete põe, coloca alguma coisa em sítio vazio, num buraco). De mittere se formaram vários verbos, com os respectivos substantivos, adjectivos e advérbios, palavras que nos vêm, na sua maioria, do respectivo étimo latino.

Demissão, p.e., vem de demissione-; demitir<demittere, que significa muitas coisas, a começar por demitir (= destituir de um emprego, cargo ou dignidade; exonerar). Para se encontrar a vastidão de palavras cognatas desta família basta antepor um prefixo à forma portuguesa meter: prometer, remeter, ou à forma derivada do latino mittere<mitir (permitir, demitir).

2. Política. Eu já vos tinha avisado mais de uma vez (ai quantas!) dessa figura monstruosa (no bom sentido da palavra, no sentido político!). Mas vou contar-vos uma estória, ou melhor, uma estória e uma história

2.1. Estória. Anteontem, terça-feira, dia 2, à noite, no meu regresso dialítico, firmei uma aposta com o meu amigo taxista:

“Ele: – O Portas vai voltar! Você vai ver!
Eu: – Não acredito! O meu amigo sabe o que significa ‘irrevogável’?!
Ele: – Mais ou menos, mas não sei bem. O Portas vai voltar! Uma aposta? Um café e um bagaço!
Eu: – Uma aposta! Um café e um bagaço! (Entoei a exclamativa, porque nem ponta de dúvida!)”

Eis senão quando… Vocês já sabem o resto…

2.2. História. Na quarta-feira, dia 3, TVI, “Jornal das 8”. Uma comentadora, que muito aprecio, consternada, procurando esclarecer a sua e a nossa raiva, terminava assim :

“– Isto tudo é uma garotada! (Isto tudo, eram sem dúvida, todos aqueles políticos da governança e suas incríveis manigâncias). Uma garotada!”

E, neste momento, estou a ver que vou mesmo perder a aposta! Como é possível?!… Eu não vos tenho dito que se acautelem com o Portas?!

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