“Nublosa”, ou ignorância crassa da língua pátria

“O financiamento partidário esteve sempre envolvido numa enorme nublosa.” (Diário de Notícias, Editorial, 15/Julho/13)

É no DN, sim senhor. E ainda por cima, no editorial. Uma ignorância, eu diria universal. Mais do que ignorância: uma bagunça! Ilegítima. Ilegal. E os governantes ainda não deram por isso? Pois. A ignorância é universal. Porque, se não fosse, nunca estaríamos a assistir a esta baralhada que chega em cheio aos bancos dos exames de Português. Pudera! Até os deputados são ignorantes! Os que votaram pró e os que se abstiveram. Porque, se não fossem, não teriam autorizado essa  tal “ratificação” que mais pais nenhum se atreveu a fazer no universo da lusofonia.  E, se é ilegítima, ninguém tem obrigação de a cumprir. Bem pelo contrário! Cumpri-la é concordar, post factum, com a estragação que se está fazendo da Língua Portuguesa.

Como fazer para pôr cobro a esta desgraça? (Eesta era a única desgraça que nos faltava: desgraçar a língua!). Desgraça que, na oportuna expressão de Vasco Graça Moura, é “uma coisa obscena chamada Acordo Ortográfico” e, na minha própria expressão, “o Alcácer Quibir da Língua”.  Como remediar? Para revogar – o que não foi possível à demissão do outro! –, basta, senhores, uma penada da Assembleia! Para acabar com esta bagunça estragadora da língua, basta, Senhores Deputados, uma desratificação. (Olhem, ia a fugir-me a língua para a verdade: se calhar, queria eu dizer desratização!… Desratização? É isso: desratizar o nosso português).

Meus Senhores, tenham pena dos falantes, que já não sabem como hão-de falar! Tenham pena dos milhares de alunos (e os professores?…) que já não sabem como hão-de escrever! E  os jornalistas, sabem?…

Mas voltemos à “nublosa”. ‘Nublosa’ só existe, em português, como feminino do adjectivo ‘nubloso’ (forma popular do erudito ‘nebuloso’). O único substantivo ou, vá lá, nome (como os tlebs de agora querem…) que, nessa família, existe em todos os dicionários portugueses de Portugal, e brasileiros do Brasil, é ‘nebulosa’, forma feminina, substantivada, do adjectivo ‘nebuloso’ (esta, forma erudita de ‘nubloso, sim senhor), cujo étimo latino é nebulosu-. ‘Nublosa’ substantivo, não!

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